quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O primeiro natal

Esse blog praticamente só é lido por seus autores. São poucos, mas são os melhores. Um feliz natal para esses grandes amigos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Balanço dos fios brancos e quilos a mais

Vamos marcar um encontro para esse fim de ano em Porto Alegre.

Estarei pela cidade entre os dias 20 de dezembro e 5 de janeiro.

Aí poderemos chutar as canelas uns dos outros ao vivo, comparar barrigas e carecas. Além de discutir formas mais ou menos eficazes de tingir costeletas que vão ficando embranquecidas e contar os filhos que espalhamos pelo mundo.

Aos machos desgarrados que foram forjar a fama de desbravados para longe dos pagos cabe informarem as datas em que estarão visitanto a mamãe e o papai em Porto Alegre.

Espero sugestões de datas e lugares.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Nota oficial

Saiu a pouco no Paulínia News:

"A Associação de Majores da Grande Campinhas e o Comando do Exército Brasileiro de Paulínia vêm a público atestar a indolência dos funcionários administrativos da Cia. Petrobrás. Embora aprovados em concurso públicos, os componentes desta operação petrolífera não possuem capacidade de instruir um subalterno na montagem de estruturas de eventos ou um padeiro a estacionar uma Fiorino. A passagem de um beiçudo careca em nosso quartel perturbou a rotina do alojamento da escola de cadetes tal qual uma peste, ao ponto destes aspirantes terem se tornado malemolentes imprestáveis para a defesa da nação.
À direção desta Companhia, o Exército Brasileiro pede que se analise um pedido formal de escusas e o encarceramento do dito funcionário em alguma plataforma da Ilha do Governador."

Voz do Povo Brasileiro e da Pequena Vitória

Diante da falta de espírito público de que se arroga meu amigo, e preocupado com a ausência que a figura paterna pode ter no desenvolvimento emocional de uma criança inocente, cubro-me com a toga dos probos e éticos dessa nação para reiterar as denúncias de descaso nos âmbitos público e privado demonstrado pelo missivista abaixo.

No primeiro parágrafo do texto, PV estufa triunfante e orgulhoso o peito para declarar sem meias palavras que "nada na minha longa biografia de homem público autoriza-o a acusar-me de aproveitador, indolente ou negligente com meus deveres familiares e profissionais". Esse ímpio homem público é o mesmo que no final do texto justifica seu salário incompatível com a miséria em que parcela significativa do povo brasileiro se encontra atolada dizendo que "este sabe muito bem que os míseros sobejos que aqui me chegam (sic) são parcela insignificante dos volumosos desperdícios do Estado brasileiro".

A fraude intelectual do argumento não passará despercebida. Quantos funcionários equivalentes ao PV existem nas estatais brasileiras? Qual o montante de recursos públicos que são destinados para os luxos e mordomias desses ditos "funcionários públicos"? Obviamente o problema não é individual, mas coletivo, e toda a nação alimenta, em algum nível, a esperança de que a solução para esse e outros descalabros surja de dentro da máquina pública. Estrutura essa que, na teoria, está aí para bem nos servir.

Mas esses são pontos mais complexos e sobre os quais não me sinto competente para discorrer com propriedade. Vamos ao ponto que pode soar mais mundano, mas que, por razões sentimentais, me tocam mais sensivelmente: a criação da pequena Vitória.

É cientificamente conhecida a importância que o afeto paternal tem no desenvolvimento emocional e intelectual das crianças durante os primeiros meses de vida. E é justamente nessa fase tão plena de significado e importância que o PV se faz ausente. Ausência que poderia ser justificada por qualquer motivo menos agotista e alheio à família do que viajar de férias a bordo de um transatlântico. E as justificativas de trabalho, pouco convincentes, elencadas pelo missivista não satisfazem nem ao leitor mais desatento. Todos sabemos o que acontece a bordo dessas embarcações de fama internacional.

Por último, quero defender o povo capixaba e amazonense, bem como toda a população do Estado de Sergipe, que foram injustificadamente vilipendiadas pelo meu adversário em letras que se arroga um certo ar de superioridade. De capital importância foram e são esses Estados e suas populações para a formação, consolidação e desenvolvimento do território nacional. Não preciso lembrar a ninguém os enormes valores pessoais e institucionais desses três Estados.

Com um abraço me despeço com um nó na garganta diante do descaso apresentado por alguém que eu considerava em alto grau.

Direito de resposta

Prezado Café,

Recebi com o devido desdém e desprezo as insinuações de seu artigo maldoso e inverídico. Nada na minha longa biografia de homem público autoriza-o a acusar-me de aproveitador, indolente ou negligente com meus deveres familiares e profissionais.

Compareço de cabeça erguida diante dos públicos dos quais Vossa Senhoria ousadamente arroga-se como advogado. Sinto-me plenamente justificado. Embora nada me obrigue a tal, adiante exponho meus motivos.


Quanto ao meu pai: durante a citada viagem, servi de tradutor e guia turístico, além de garoto de recados, secretário particular, fotógrafo, carregador de malas, garçom de buffet, provador de alimentos de origem duvidosa e outras funções adjacentes;

quanto a minha filha: eu a sustento com o suor do teu rosto;

quanto a minha esposa: esta aproveitou minha ausência para ir a Porto Alegre. Aliás, como consolo para possíveis descontentamentos, ela é constantemente lembrada das outras unidades operacionais da minha empresa, disponíveis para transferência (Espírito Santo, interior de Sergipe, coração da selva amazônica);

quanto ao povo brasileiro: este sabe muito bem que os míseros sobejos que aqui me chegam são parcela insignificante dos volumosos desperdícios dessa complexa estrutura institucional que subsiste mediante sistemático e inexorável consumo de impostos, ora denominada Estado brasileiro.

Muito obrigado.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Hombridade

Um homem, que vive dos impostos que toda a população brasileira paga, faz uma filha na sua mulher depois de tê-la levado para longe da própria família, para uma cidade erma no interior tórrido de São Paulo, abandona a casa menos de seis meses depois do nascimento do bebê para viver o luxo proporcionado pelas benesses conquistadas pelo pai em anos de trabalho duro. Quantas ave-marias e quantos pai-nossos para dirimir isso, PV?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Notícias do Zé Eleutério

O Zé Eleutério, que foi durante muito tempo o melhor jogador do Sport Club Piracanjuba Fussball Clube Fantastic Globetrotters, está morando em Nova York.

O cara está fazendo um estágio em uma agência de publicidade por lá -- parte de um programa de intercâmbio de um curso que o cara estava fazendo aqui em São Paulo.

Agora, ele deve voltar para o Brasil para trocar o passaporte dele de estudante para trabalhador e tentar voltar os States para trabalhar oficialmente numa agência de lá.

Ele já estava por lá quando eu estava terminando o meu curso, mas não conseguimos marcar um tempo para nos encontrarmos. Algo muito parecido com o que acontece com o Spanholi, que eu ainda não vi falando "você" e "com certeza".

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Cinemais

Gurizada,
A partir de amanhã, estará no ar para valer o blog Cinemais, editado por mim (cinemaisbrasil.blogspot.com).
Assim eu livro o Falácias Felpudas dos longos e tediosos textos sobre cinema.
Espero os comentários dos senhores por lá.

grandes abraços

Tropa de Elite não pára em pé

Dá calafrios quando leio por toda a imprensa (e repetido por gente inteligente também) que o filme de José Padilha é ótimo e um dos melhores já feitos no Brasil.

Calafrios porque sob qualquer ponto de vista que se tome esse adágio da filosofia brucutu, do pega e arrebenta, ele não se mantém em pé.

Além de ser fascista e maniqueísta em seu discurso, o filme é uma obra de arte capenga e com incongruências absurdas.

Vamos aos meus pontos de vista sobre a obra.

Para começar, Padilha não reconhece a diferença entre documentário e ficção. Um documentário serve para traçar um retrato de uma realidade qualquer. Nunca se pretende esgotar um assunto em um filme de duas horas, mas, tal como em uma boa reportagem, deve-se tentar atacar a pauta por todos os lados possíveis. “Tropa de Elite” é simplista apresentando apenas um discurso fechado e único. Todos os personagens e o narrador concordam que a solução para a violência no Rio é quebrar a coluna do tráfico na porrada, que o consumo de drogas é a causa da violência, que repressão é a única solução.

Como documentário, o filme ignora que a causa da violência do Rio é um fenômeno complexo que resulta de um calderão de fatores entre eles as drogas, a pobreza, o desemprego, a proximidade entre ricos e pobres. Algum sábio, como Padilha, pode dizer que se se acabar com o tráfico de drogas a violência sumirá. Ao que uma pessoa bem menos culta a respeito dos meandros sociológicos do Rio vai perguntar: mas então os seqüestros não vão aumentar? Os roubos a condomínios não vão substituir a indústria das drogas? Os assaltos a bancos não podem parecer uma opção interessante?

Mas o filme não é um documentário. Padilha se arrola o papel de arauto de um problema que ele não aborda. O morro do Rio é apenas um pretexto para contar uma história de ficção, mesmo que ela seja enriquecida por cenas baseadas em relatos reais.

E como obra de ficção, o filme, infelizmente, tinha todos os elementos para ser grande, realmente um dos maiores já feitos no Brasil, mas escorregou em uma série de inépcias dos seus criadores.

Ele é realmente bem filmado, uma câmera nervosa competente. Mas isso não é novidade. Wagner Moura realmente está muito bem. Mas o seu personagem é nulo em profundidade.

Falando em personagens: quem é o personagem principal do filme? Para a maioria das pessoas que me responderam essa pergunta, é o Capitão Nascimento. Segundo o próprio José Padilha, o personagem principal é Matias. Eu concordo com ele, Matias deve ser o protagonista. Mas isso fica mascarado pelo fato do Capitão Nascimento ser o narrador da história, dando o tempo todo a sua versão distorcida dos fatos.

Uma coisa que se pede de filmes de ficção é que os personagens evoluam, que comecem em um ponto A e terminem num ponto B. Capitão Nascimento começa o filme como um brutamontes assassino que tortura e manda matar. E acaba como um brutamentes assassino que tortura e manda matar.

E o pior é a avaliação feita pelo narrador dos atos de Matias. Quando ele entrou na faculdade, “estava cometendo uma puta cagada”. Quando começou a namorar a guria rica, também. Quando foi para a ONG, então, se condenou. E cometeu o maior absurdo quando foi para uma entrevista de emprego em um escritório de advocacia.

Ele só fez uma coisa certa quando fuzilou com uma 12 a cara de um traficante indefeso.

Ele é um personagem que evolui. Mas evolui para o mal e não é punido por isso. Tudo bem evoluir para o mal. Scarface fez isso. Taxi Driver, também. Mas como foi que eles terminam? Matias vira herói.

E todos os elementos estavam lá. Um conflito interessante: Nascimento ia ser pai e precisava fazer um sucessor antes de se aposentar. Dois jovens promissores. Um deles é morto pelo tráfico. O outro é um personagem complexo e dual com um pé dentro do Bope e outro na faculdade. Matias poderia fazer uma crítica interessante das operações criminosas do Bope dentro das favelas, vistas do ponto de vista de um estudante de Direito (que deve zelar pela legalidade); e, abordaria a visão de dentro da academia com a vivência das operações do morro.

Mas o contraponto acaba sendo uma aulinha ridícula de faculdade em que ninguém fala nada e palavras são postas na boca de Foucault.

Mais um filme ruim brasileiro. Esse com a desculpa de se colocar na conta do papa.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Pai adestrador

Lembrei esses dias de uma teoria muito inteligente, mas que vocês vão concordar comigo ser pouco humana, que o PV costumava propagandear durante a faculdade.

Ele contava de uma primo ou uma prima dele que tinha um filho que, segundo o PV, seria a criança mais bem-educada do mundo. Um moleque que não choraria, não reclamaria de nada e saberia o significado da palavra não.

Eu duvido que uma criança assim exista. Nada de "a-gente-já-tá-chegando?" ou "eu-quero-um-presente".

Mas o PV contava sobre esse ser mitológico e explicava o motivo para o comportamento supra-humano do priminho. Os pais, quando a criança era bebê, deixavam ele chorar até cansar ou chegar a hora de mamar (o que viesse primeiro).

Eles agüentavam no osso do peito (com a complacência dos vizinhos) os choros durante noites inteiras até que o moleque aprendeu que chorar não adianta. Afinal ele tinha os pais mais insensíveis do mundo e nada que rolasse dos olhos dele ou saísse de sua garganta parecia capaz de mudar esse cenário fatalista.

Queria saber no nosso amigo se a teoria está sendo colocada em prática no interior de São Paulo.

Devo fazer uma ligação para o Juizado da Infância e da Adolescência ou tu abriste mão da teoria?

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Estética

Pequeno esforço para deixar esse blog mais bonito.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Dois patinhos na empresa

Essa é pra série Mundo Corporativo do PV. É velha, não fui eu que inventei e nem eu que escrevi o post, mas acho que vale reproduzir aqui. Tirado do blog Pérolas das Assessorias.

Rola por e-mail já faz um tempo uma versão brasileira desse negócio, mas nunca vi ninguém dar o devido crédito.

Acontece que essa idéia saiu do livro “The Worst-case Scenario Survival Handbook: Work”, que eu tenho. A tradução do título seria algo como “O Guia de Sobrevivência na pior situação possível: Trabalho”.

Traduzi/adaptei mais ou menos e fiz uma cartela igual a do livro. Eles dão várias cartelas diferentes e sugerem que os funcionários preencham durante a reunião conforme forem ouvindo as expressões. Quem fizer primeiro uma linha é o vencedor.


Bingo de Reunião

Um constante evoluir

Quando a gente pensa que viu tudo em relação a algum assunto, senta e escreve um post a respeito. Três dias depois, a vida mostra que para certas coisas não existem limites...

terça-feira, 28 de agosto de 2007

E no Pampa Safari...


Juro que não tenho a intenção de mergulhar esse blog numa onda de bestialismo nem nada assim, mas a coisa às vezes se impõe. Nos primeiros dias do blog, escrevi (mas não cheguei a publicar) um post sobre a curiosa história do cara que casou (e depois enviuvou) de uma cabra. Aí teve aquela vítima de crime passional, que abalou a Paraíba. Essa semana teve o camelo sem critério.

Esses dias fiquei sabendo que causou sensação no Festival Sundance de filmes independentes o documentário que fizeram sobre Mr. Hands. Esse camarada freqüentava uma fazenda, em Seattle, que promovia “encontros inter-espécies” e se apaixonou por um cavalo que vivia no lugar. O amor entre os dois não era platônico e, durante um ato de arrebatamento, seu parceiro teve uma ereção, provocando a sua morte.

Agora vamos com calma e cuidado. A mais recente notícia sobre essa forma incomum de interação é uma verdadeira bomba em termos de potencial para humor de mau-gosto. Dentro de uma interessante matéria sobre ataques de símios à plantações da vila de Nachu, no Quênia, lê-se que os macacos assediam sexualmente as mulheres que protegem essas propriedades. Uma entrevistada relata que os chimpanzés agarram seus seios e fazem gestos obscenos na direção de suas partes privadas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Violência doméstica

Ninguém mais segura a criminalidade. A coisa tá demais. Vejam o caso desse malfeitor violento e dessa inocente senhora autraliana de 60 anos. Ela cuida dele, abre as portas de sua casa e o que ganha em troca? O pior é que o animal já tinha tentado com outros habitantes da casa.

É o fim do mundo. Se pelo menos o criminoso fosse malufista teria seguido a máxima do "estupra mas não mata".

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Walker Texas Ranger

Melhores momentos do pior programa jamais feito.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Projeções para o cenário econômico global

Recado para analistas de mercado financeiro, consultores de gestão de riscos, macro-economistas. Podem acreditar, a coisa vai ficar feia até o fim do ano. Isso eu garanto e a explicação é simples: eu.

Eu devo receber lá por dezembro um dinheiro que por alguns anos fui depositando num título de capitalização. A bolada, desde o início, tinha como objetivo viabilizar uma viagem. Já vislumbrando essa possibilidade como algo mais concreto, comecei a cogitar as possibilidades. Com esse dólar barato, pensei, bem que eu podia ir conhecer o fabuloso império ianque e voltar de Nova Iorque ou Los Angeles com o status de sacoleiro globalizado.

Foi o suficiente para ocasionar a turbulência no mercado internacional, provocada pela crise do setor imobiliário dos Estados Unidos e que fez o dólar voltar a subir depois de um bom período de queda.

Alguém lembra desde quando o dólar começou a cair? Eu lembro. Ali por 2005 eu tinha planejado uma outra viagem. Era na verdade uma indiada. Mas, enfim, tem que dar desconto, porque profissional liberal não tem férias. E quando uma conjunção de fatores permite uma saída de descanso, vale daí até as indiadas.

Não sei se hoje pensaria nisso, mas na ocasião me pareceu razoável pegar um ônibus até Campo Grande (MS) e depois Corumbá. Atravessar a fronteira com a Bolívia e embarcar no "trem da morte" até Santa Cruz de La Sierra. Avançar até La Paz, passando por Cochabamba rapidamente e seguir para Copacabana (Lago Titicaca). Entrando no território peruano, seguir por Puno até Cuzco (Macchu Pichu) e voltar para Nazca (litoral). Daria ainda para conhecer Lagunas, Salares e o Atacama.

Estava tudo definido, programado. Mochila nova, saco de dormir, tênis comprados. Uma boa quantidade de dólar, suficiente para sobreviver diante do fraco peso boliviano com certar mordomias. Mas eu só tinha uma janela em junho daquele ano que me permitiria dar essa saída. O que poderia dar errado? Pois é.

A viagem não saiu e fiquei então com uma coleção de notas do Ben Franklin guardadas, acompanhando queda após queda... Esse ano, com a cotação a menos de dois reais, tive que me desfazer das notas para dar conta de umas taxas da aquisição do apartamento. Por esta história linda e triste e pela nova viagem que eu só pensei na possibilidade de fazer, posso assegurar Bolsa indo às chamas, recessão na economia norte-americana e o escambau.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Esticando o assunto

Duas historinhas relacionadas ao texto e ao comentário do post abaixo. Por ordem:

1) Ascendência hierárquica - Fazia tempos que não ia visitar a obra do shopping que estão construindo aqui em POA. Eu, como assessor do empreendimento, fui lá fazer umas fotos para registro e para eventuais pedidos de jornalistas que acompanham o andamento do negócio. Isso evita todo um transtorno gerado a cada pedido de reportagem que quer levar fotógrafo lá para andar por tudo. Como foi dito abaixo, o trabalho com engenheiros requer uma certa engenharia. Visitantes "alienígenas" não respeitam normas de segurança, vão com calçado inapropriado, precisam de capacete, óculos de proteção e algumas autorizações de acesso. A idéia é eu fazer as fotos e passar para quem precisar. Enfim, esse era o objetivo, mas, como eu disse antes, fazia um tempo que eu não ia lá e a obra passou para uma segunda fase com a fundação e vigas prontas. Assumiu a função toda uma empresa de engenharia especializada para erguer as paredes. A empresa nacional trouxe do centro do país a mão-de-obra especializada para algumas funções chaves. Por isso ficou comum ouvir entre os engenheiros chiados cariocas e erres característicos de paulistanos. Agora, adivinha qual era o sotaque e origem do cidadão responsável pela guarita de portaria? Bom, faça sua aposta. O que posso dizer era que este senhor provido de uma cabeça avantajada nunca tinha me visto e por isto ignorou a minha apresentação ao tentar o acesso ao local (de carro, ainda mais). "Sem crachá não entra", "Visitante só com autorização do Seu Fulano (o manda-chuva do pedaço), mas ele está em horário de almoço (quase 15h)". Desci do carro. Foi quando tentei explicar que era da assessoria de imprensa e que pretendia fotografar. Piorou a coisa. "Rapaz, se o senhor é da imprensa, só com autorização do Seu Fulano (manda-chuva) e da área responsável (no caso, eu mesmo)". Liguei para o Seu Fulano e ele não atendeu. Então falei com o Doutor Beltrano (o manda-chuva do manda-chuva) que pediu para falar com o nosso porteiro. Passei o celular e só escutei. "Sim, senhor. Sim, senhor. Entendi, sim, senhor...". Ele me passa o telefone de volta e o Doutor Beltrano diz que está tudo esclarecido e me deseja bom trabalho. Desligo e então o porteiro me diz. "Rapaz, eu sei que ordem do Doutor Beltrano é ordem de Deus, mas o senhor terá que esperar o Seu Fulano do almoço porque ele me deu ordem para não deixar entrar jornalista sem autorização..."

2 - Tocos
Cecconi, fã iconteste do professor Ungareti, talvez não tenha ouvido o que ouvi numa aula recente a posição do nosso mestre sobre tocos. Ele desce a lenha. Mas como ele desce a lenha em tudo, não é só nisso, tá tudo em casa. Esses dias eu fui convidado a participar de um café da manhã-coletiva de um sindicato co-irmão de uma associação que assessoro. Não vou entrar no mérito de qual é o setor que este sindicato representa, mas na saída do café foram entregues alguns brindes para os jornalistas. Cada um recebeu uma caixa de porte semelhante àquelas entregues para funcionários de empresas em época de Natal com um belo rancho. No caso aqui, cada caixa tinha uma bela quantidade de folders e prospects de produtos de empresas filiadas ao sindicato, além de alguns produtos que estas manufaturam. Não sei o que farei com a fralda geriática ou o absorvente de fluxo intenso que ganhei, mas os filtros de café, guardanapos, papel toalha, cadernos e, principalmente, papel higiênico serão muito úteis. Faz uns três meses que passei a morar sozinho, pouco fico no apartamento. Por isso, uma única vez comprei um pacote com quatro rolos de papel higiênico. E ele nem acabou. Ganhei mais um pacote agora só que com um diferencial: o pacote me pareceu a primeira vista meio pesadão. Fui ver e a explicação estava no fato de cada rolo valer por três. 90 metros. Vezes quatro, trezentos e sessenta metros de limpeza íntima. Terminarei de pagar o apartamento antes de precisar comprar papel higiênico novamente.

Atalhos corporativos

Eu trabalho numa grande empresa, com todas as características de corporação que vemos retratadas em filmes, séries, tirinhas. A vivência nesse tipo de ambiente serve para tornar essas sátiras bem mais interessantes. Adoro o The Office, série que passa no FX e morro de rir com o Dilbert. Mas é curioso notar que, às vezes, a vida real pode ser mais engraçada (ou irritante, ou absurda) que a ficção.

Na minha grande empresa prezam-se sobremaneira os procedimentos. O Padrão Operacional é tudo, rege sobre o mar e a terra. Mas os longos braços das instruções normativas não alcançam tudo, deixando alguns espaços vazios na vida corporativa. Engenheiros e contadores enlouquecem nessas situações. E a minha grande empresa foi construída por (e para) engenheiros.

Em julho, nos mudamos para o novo prédio administrativo. Maravilha da arquitetura, amplos espaços de circulação, jardins de inverno com teto de vidro, inovações ergonômicas por todos os lados. Mas na hora de ocupar, surgem os problemas. Nas salas, a altura das divisórias que cercam as mesas (as ‘estações de trabalho’) era superior à altura da maçaneta das janelas. O resultado é um camarada ajoelhado em cima da mesa para abrir a persiana. Além disso, o layout do projeto previa todo mundo no mesmo ambiente, costas voltadas uns para os outros e monitores à mostra de todos. Um moderno conceito de compartilhamento de espaço, execrado por todos os chatos que gostam da velha privacidade, seja pra redigir contratos sigilosos, jogar tetris ou ler blogs falaciosos.

Quando os colegas da minha gerência, alguns meses atrás, perceberam essa irritante característica da sala, começaram uma batalha épica contra os padrões e procedimentos. Como de hábito, ainda mais numa empresa de engenheiros, a gerência de comunicação, onde trabalho, é conhecida como um setor nada enquadrado. Mas nós tentamos os caminhos tradicionais. Solicitações por escrito, reuniões sobre o assunto, longas deliberações. Durante a fase de planejamento, na consolidação do projeto, no momento da implantação. Tudo tiro n'água.

Mas na hora da montagem das salas, não existiam engenheiros nem gestores no prédio novo. Todos estavam ocupados com as mudanças dos seus departamentos. Na comunicação, uma comissão indicada para uma última tentativa. Tive a honra de integrar esse grupo de trabalho. A sala nova foi fechada, ocupada apenas pelos montadores, sujeitos simples contratados apenas para essa tarefa, não conhecedores da empresa, incapazes de diferenciar o PV do Gerente Geral. Momento perfeito para o início das operações. Com pose decidida e segura, comecei passando ordens confusas e em um tom levemente autoritário. Eu levava na mão um desenho técnico (na verdade, uma ampliação escaneada do projeto, alterada toscamente no Microsoft Picture Manager, aquele programinha de segunda que vem com o Windows). Com a expressão carregada, interrogava os infelizes. "Por que está sendo montado desse jeito?", "Quem alterou o projeto?". Os montadores trocavam olhares aparvalhados.

Os dois colegas que me acompanhavam partiram para o ataque, no mesmo estilo patrola. Abraçaram duas divisórias e começaram a girá-las. Sempre com muita falação, olhares sérios, comparações com o "projeto". Os rapazes agora estão confusos. Hora da primeira leva de bonés e camisetas promocionais. Um deles toma coragem. "Na verdade, a gente precisava de autorização do seu Valdemar". Eu fico em silêncio. Com um olhar compreensivo, peço para ele aguardar um momento.

Aí veio o golpe de mestre, um daqueles momentos que, quando lembrado, vai sempre encher meu coração corporativo de orgulho. Eu e um colega, desses com 25 anos de empresa e uma intocável aura de respeitabilidade, vamos até o Valdemar. O homem tá atolado, umas vinte salas em montagem, o cronograma da mudança atrasado. Um sujeito e tanto, o Valdemar. No crachá, se lê 'capataz'. Isso mesmo, o cara não é engenheiro, nem planejador.

- Valdemar, no espaço entre as duas baias do centro não cabe a impressora nova. A segunda baia tem que recuar um pouquinho.
- Mas tem espaço pra impressora no projeto.
- É, mas para a impressora antiga, a nova é maior.

O Valdemar sabe que nós trocamos de impressora. Ele até fez umas cópias das fotos no último churrasco.

- Tem espaço no fundo? Pede pro rapaz que tá lá ajeitar.
- Ele disse que precisa de ordem sua.

Prendendo a respiração, assistimos, de dentro da sala, o Valdemar passar correndo, enfiar a cabeça pela porta. "Faz a alteração que eles indicaram, não tem problema". Nós nos oferecemos para dar uma mãozinha. Depois de resolver umas questões relativas à passagem de cabos elétricos e de rede, processo agilizado pela farta distribuição de mais bonés e camisetas (e umas canetinhas 'dessas de metal'), nos instalamos. É a única sala de todo o prédio que tem um layout diferente, para a gerência que detém o recorde de uso de internet (tanto no tempo como nos megabytes). Na primeira visita, os engenheiros sempre torcem o nariz, mas sabem que, na real, é muito complicado autorizar uma modificação agora.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Cabeça vazia, oficina de debilidade

A senóide daqui do meu trabalho parece que resolveu que agora era hora de descer a ladeira. Isso significa mais tempo para a minha cabeça se ocupar com infâmias e eu me ocupar com atividades de utilidade duvidosa. Entre elas, atualizar com mais freqüência os meus vídeos preferidos no Rodotubo. Começo no sábado com uns clipes e uns filmes

Pra começar, resgatarei alguns videoclipes peculiares como esse do tal Ok Go, que descobri não faz muito, mas que, enquanto eu fiquei nesse período de trabalho 100%, parece ter virado fenômeno de You Tube e feito vários na seqüência. Esse em especial me lembra o quanto é constrangedor ir a festas corporativas, formaturas e assemelhados e ver o cara da contabilidade se esmirilhando num estilo John Travolta.



Retomo o Rodotubo no final de semana com os clipes e uns filmes estranhos que andaram passando por aí (entre eles, aquele que traz numa talagada só o Stallone, o Michael Caine e o Pelé resolvendo a parada entre nazistas e aliados numa partida de futebol...)

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Como o Álvaro já adiantou...



Até onde se sabe, sou o primeiro integrante desse seleto grupo de desocupados a correr o risco de perpetuar a espécie. Com sucesso, apesar de evidentes semelhanças com o pai (cabelos e beiço).

Parem as máquinas

Atendendo o pedido do Cecconi que nos cobrava novos post e novidades, escrevo pela primeira vez na história deste blog, o link mais especial que o dia 25 de julho de 2007 pode ter, já que ninguém ainda o fez.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

O Bobo e o Touro Indomável

O Cecconi sempre foi um gaudério bigodudo escondido sob a pele de um branquelo careca do Alto da Bronze. E ele voltou às raízes sem nunca lá ter estado.

Eu sempre fui um exibido metido à besta. E sigo cultivando a tradição.

Movido por essa força imensa, eu tenho de registrar que conheci o Robert de Niro.

É isso. Obviamente, ele não me reconhecerá na rua. Mas por uns quarenta minutos eu estive na mesma sala que o Poderoso Chefão.

Na sexta-feira, o Taxi Driver esteve na minha aula para dar uma promovida no festival de cinema que ele organiza no bairro onde mora e onde fica a academia, TriBeCa.

Entrou, como se ninguém fosse se jogar em cima dele para pedir autógrafos. Sentou no auditório e conversou uns vinte minutos como qualquer mortal faria para divulgar uma mostrinha mequetrefe de filmes ruins.

Sentou lá. Colocou os pés em cima de uma cadeira. E falou.

Ele se parece com qualquer senhor de 64 anos. Meio curvado, mas com aquele olhar de chefão mafioso ou de taxista psicopata que pode te matar a qualquer momento.

Respondeu algumas perguntas do pessoal do curso de atuação. Uns quarenta minutos depois de ter chegado, se levantou agradeceu e foi embora. Sem estardalhaço. Sem robuliço.

Como um simples mortal.

(Talvez ele até fosse apreciar os prazeres do mate pura folha.)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Contagem regressiva

Dentro de um mês o PV vai ser papai.

Joelho já tá tremendo, rapaz?

quarta-feira, 4 de julho de 2007

De Mailer e Talese, Without Toll At All

Sábado de sol com o céu claro e uma temperatura em torno de 20oC. Chegoo em Nova York para dois meses de estudos, que devem se tornar mais um dos turning points da minha vida. Um período sabático e turístico. Afinal somos jovens e temos que aproveitar.

De cara, começo a encontrar todos os estereótipos que vemos nos filmes. Logo na saída do aeroporto, pego um táxi dirigido por um indiano que sabia dizer bom dia, perguntar o endereço de destino e soletrar a tua resposta para se certificar de que vai te levar para o lugar certo. Só. Sem graça. Mas tem mais. No meio do caminho, o motorista cor de cinzas se vira para mim e pergunta num inglês macarrônico: Uei uiau tó éró? Eu faço uma cara de superioridade para deixar claro que não sou eu que entendo pouco a língua, mas ele que não sabe falar.

Depois de ler algumas placas na estrada, eu descubro que ele quer que eu escolha entre dois trajetos. Um que passa por um pedágio; outro, sem pedágios. Para mim, tanto faz. O pedágio está incluído no preço único da corrida entre o aeroporto e a cidade. “Vai pelo pedágio.” Não quero aumentar o lucro dele.

Ainda no caminho, passo por diversas daquelas placas de carros que realmente têm coisas do tipo: “BONJOVI6” ou “LUVRAP23”.

Todos os atendentes de restaurante e funcionários do prédio ou do metrô, por exemplo, são mexicanos. E ganham mais do que eu ou vocês. (Talvez o PV esteja ganhando mais. Afinal meus impostos têm que ir para alguma coisa produtiva.)

Hoje é o dia da indepência dos caras. Para curtir uma de turista verdadeiro, fui até o Ground Zero – onde estava o World Trade Center. Todos os verdadeiros americanos estavam lá. Zelando pelas almas dos seus bravos heróis. Do lado das obras, há um posto de recrutamento para o Exército. Não dá para duvidar da noção de oportunidade deles.

Mas o mais impressionante – e positivamente impressionante para mim – é como o pessoal daqui aproveita a cidade deles. Como eles se dedicam a ir aos parques curtir os finais de tarde. Como ninguém parece viver dentro daquela nossa paranóia de trabalhar, trabalhar e trabalhar mais um pouquinho. Às 17h, todo mundo está na rua. Trabalho só amanhã.

E vão para coisas como o Lincoln Center assistir a um show de música. Durante todo o verão, a prefeitura e outras instituições organizam esse tipo de coisa. Shows gratuitos só para celebrar os dias mais longos. Ontem, tinha umas duzentas pessoas dançando felizes da vida no Lincoln Center. Amanhã, estarão lá novamente.

Tudo without toll at all.

domingo, 1 de julho de 2007

Pérolas e porcos

Não se deve desperdiçar pérolas com os porcos. E mesmo feijão com arroz deve ser feito da forma certa.

Acho de um sem propósito absoluto essa discussão que tomou conta do blog sobre objetividade absoluta e espaço para new journalism (novo apenas nos anos 40). Como sempre vemos, mas parece que pouco aprendemos com isso, todas as ditaduras têm pés de barro muito macio. A ditadura de achar que o jornalismo objetivo é o único possível é tão perniciva quanto achar que o jornalismo literário, por alguma razão mágica que me escapa, é a solução para o que quer que apontemos como problemas presentes nas redações de jornais atualmente.

Adotar o jornalismo literário não vai resolver a falta de boas pautas, não vai melhorar a qualidade de repórteres e editores, muito menos melhorar a relação entre eles. E não acredito que pudesse aumentar a tiragem dos jornais.

Quando leio uma nota sobre como foi o dia da Bolsa de Valores ontem, não quero saber do investidor de 67 anos que queria pagar a festa de casamento da filha e mandar o jovem casal para uma lua-de-mel inesquecível no Taiti, mas perdeu tudo e se matou de desgosto. Nem sobre o jovem arrogante com um pequeno defeito na perna que depois de ter penado a infância inteira com as zombarias dos amiguinhos, deu uma tacada decisiva e comprou no mercado o controle da empresa em que ele havia começado a trabalhar como estagiário apenas sete anos antes. Eu quero saber se as ações subiram ou caíram. E quanto dinheiro eu posso ter perdido ou ganho nessa brincadeira.

Na verdade, eu dificilmente leio uma notícia sobre a Bolsa no dia seguinte. Já li tudo de que eu precisava ao vivo pela internet.

Eu aprendi que repórteres são bons não pela qualidade de seus textos, mas pela capacidade de cultivar boas fontes e apurar grandes histórias. (E ninguém me disse isso na faculdade.)

Só para citar dois casos concretos com quem trabalhei e deixar o texto menos opinativo: Roberto Cosso, ex-Folha de S.Paulo e atualmente comandando o site Última Instância; e Fausto Siqueira, ex-Estadão.

O Cosso cobria o Maluf durante 2002, quando todos os jornalistas do país estavam ocupados com as eleições para a Presidência. Eu era redator e tinha de reescrever inteiramente os textos truncados, as frases sem verbo e as idéias sem conexão do Cosso. Ele encontrou a até hoje negada conta no exterior da família Maluf. Uma conta nos Estados Unidos sob o código Beacon Hill. A operação Farol da Montanha da Polícia Federal e do Ministério Público veio daí.

O Fausto veste sempre calça jeans (a mesma) e uma camiseta Hering branca. Tem apenas um casaco de terno que ele pegou emprestado na TV Educativa para participar de um Roda Viva e foi embora sem devolver. O sonho dele e conseguir juntar R$ 1 milhão na poupança para poder se aposentar (e está quase conseguindo!).

Esse cara detonou a investigação contra o Judiciário estadual de São Paulo, naquilo que depois ganhou o nome de Operação Anaconda. Colocou juízes, promotores e um delegado da Polícia Federal atrás das grades.

Os dois escreviam (no caso do Cosso tentava escrever) com a maior objetividade possível. Duvido que tenham pensado em escrever alguma das histórias deles partindo do ponto de vista de um dos pobres que moram embaixo do Minhocão ou de alguém julgado pelo juiz Rocha Mattos. E eram geniais repórteres.

Não adianta querer escrever jornalismo literário sem o material próprio para isso. Jornalistas estão aí para prestar um serviço. São prestadores de serviço, embora isso seja às vezes muito difícil de entender. E o serviço é informar o mais clara, objetiva, correta e rapidamente possível. É isso que eu quero quando acesso a internet ou abro um jornal. Sem frescuras.

É a questão tão cultivada já foi resolvida. Todos nós consumimos livros reportagem. Aí sim está o espaço propício para uma grande história ser desenvolvida e contada como ela merece. É através deles que elas serão preservadas. Se os currículos das faculdades fossem alterados talvez pudéssemos ter cadeiras de Livros Reportagem ou Jornalismo Literário.

Não se deve desperdiçar pérolas com os porcos. E mesmo feijão com arroz deve ser feito da forma certa.

Vamos ao que interessa

Showrnalismo, new journalism, Norman Mailer e Gay Talesse... Enquanto os colegas abaixo discutem o sexo dos anjos do jornalismo, passa batido temas que realmente afligem os cidadãos de bem, como a extinção da TV Guaíba. É verdade que muita das atrações locais migrará para a Pampa, Ulbra TV e Canal 20 da NET, mas é bom se acostumar com a idéia de nunca mais poder assistir a um documetário alemão da Transtel ou com as atualidades dos anos 80 do Japão. As vinhetas pelo menos foram salvas por belas almas.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Sobre escritores e repórteres

Sempre relacionei Norman Mailer a Ernest Hemingway. Claro que não no estilo, porque definitivamente a verborragia do Brooklin não combina com as silenciosas pescarias em Montana, mas com certeza na macheza antiquada e naquela segurança e autoridade do “vim, vi e contei” que os dois compartilham ao escrever. Imagino que eu não seja o primeiro a pensar nessa analogia, mas na verdde nunca li nem ouvi a comparação antes. Um dos pontos que aproxima Mailer e Hemingway é o fato de terem sido escritores e jornalistas, tendo enfrentado certamente as contradições internas resultantes de duas atividades semelhantes nas ferramentas e quase opostas nos objetivos. Nesse sentido o autor de O Velho e o Mar parece ser bem melhor resolvido. Já Mailer, no prefácio de “O Super-homem vai ao supermercado” (coleção Jornalismo Literário, da Cia. das Letras), explicita sua opinião pouco positiva a respeito do jornalismo, afirmando que nunca trabalhou como jornalista e não gosta dessa profissão.

[leia aqui post sobre o prefácio]

“O Super-homem vai ao supermercado” é composto por três longas reportagens, publicadas algum tempo depois do fato retratado (sem as exigências de pressa das notícias), repletas de referências históricas, centradas em relatos de fatos reais, com personagens reais, incluindo-se o autor, que se envolve nos eventos narrados. Tudo isto contendo descrições e diálogos absolutamente literários, que Mailer prefere chamar de ficcionais, abraçando uma perigosa conotação. Mas para evitar o rótulo do new journalism, Norman Mailer prefere se declarar um romancista, renegando o jornalismo a um papel inferior. Ao tentar lavar as mãos da sujeira escura dos embrulha-peixe, ele propositalmente confunde jornalismo com mau jornalismo, mas parece agir menos por convicção do que com a intenção de esquentar mais uma de suas muitas polêmicas – com Tom Wolfe, no caso.

A distinção entre as duas funções certamente existe, mas isso nunca impediu Hemingway de exercê-las com igual competência. Na sua prosa, o escritor parece começar onde parou o jornalista. Para contar uma história, Hemingway-romancista utiliza-se do caderno de anotações e das lembranças de Hemingway-repórter. Depois de viver em Paris e assistir touradas em Pamplona, ele criou Jack Barnes e Pedro Romero. Mailer descreveu os óculos de Gene McCarthy ou as filhas de Nixon para nos falar de política e das diferenças entre democratas e republicanos. Definitivamente jornalismo.

Em relação ao livro propriamente dito, uma das primeiras coisas que chama a atenção é o pequeno interesse despertado originalmente pelo assunto, principalmente dos dois primeiros ensaios. A verdadeira política americana não aparece senão em sombras. As convenções, grandes eventos midiáticos que marcam a escolha dos candidatos à presidência pelos dois partidos americanos é uma farsa vazia e sem surpresas e Mailer não esconde isso, nem tempera o texto com surpreendentes revelações. Quando descreve personagens e ambientes, mostra sua força de romancista (aos 25 anos, ele publicou um dos mais importantes livros norte-americanos), mas esses protagonistas e cenários são, em geral, muito entediantes. Quando, entretanto, se aproxima de eventos de real interesse histórico, como o chamado Cerco de Chicago de 1968, o jornalismo literário de Mailer mostra sua vocação como uma das melhores formas modernas de descrever tais acontecimentos.

É claro que em artigos com as características do jornalismo literário, o texto reflete as características individuais do autor, ainda mais no caso de um sujeito com personalidade tão forte. “O Super-Homem...” é autocentrado, autocondescendente, machista e repleto de referências semi-intelectuais. Aquelas opiniões presunçosas que Mailer finge compartilhar com o leitor estão fartamente distribuídas por todo livro. E assim como em seus romances, ele procura constantemente provocar incômodo, embora utilizando menos palavrões, seu expediente mais usual. Essas fraquezas mostram-se por completo na sua insistência bipolar de se acusar e se absolver de covardia nos episódios de Chicago. A julgar pelos seus relatos, Mailer degladiou-se muito tempo com o remorso por não ter tomado parte em praticamente nenhuma das sangrentas manifestações populares na cidade, sempre por motivos fúteis, como o porre da véspera ou uma farra já marcada com Hugh Hefner. Felizmente para seus leitores, Hemingway não ocupou muitas linhas com irritantes conflitos internos em “Adeus às Armas” e eu não conheço ninguém que tenha se perguntado se o Papa marcava bacanais para o horário das batalhas durante a Guerra Civil Espanhola.

Mas certamente o balanço é positivo. O olhar de Mailer é atento, crítico e está anos à frente daqueles que o cercam. Seus cinismo e lucidez servem muito bem para descrever manipulações, sinceridades e desencantos existentes por trás das festas de gala republicanas e das grandes mobilizações contra a Guerra do Vietnã ou o racismo. O esvaziamento do discurso político, suas causas e efeitos, o encanto pessoal de Kennedy, a loucura da geração LSD, tudo visto de perto, às vezes de dentro. Aliás, muito antes da dica do posfácio – para meu orgulho – percebi em alguns trechos a relação com o jornalismo-gonzo, que conheci por influência do excelente filme Medo e Deliro em Las Vegas, de Terry Gilliam. No fim da leitura, a sensação que, assim como em À Sangue Frio, Filme, ou porque não, Paris é uma Festa, sejam jornalistas ou escritores, algumas pessoas são naturalmente capacitadas para extrair sutilezas humanas de quase todas as situações, bastando para isso colocar-se nos lugares certos, observar com cuidado e colocar no papel suas impressões, independente do nome que dê a esse esforço.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Acompanhe o raciocínio

1- Jornalista formado na Fabico

2- Jornalista formado na Fabico não se vende para o sistema

3- Jornalista formado na Fabico não se vende para o sistema, por isso vai morar numa pipa de vinho no meio do mato.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Isso sim é minoria

Lamento profundamente que o Café (numa atitude bastante suspeita) tenha se negado a representar o Falácias nessa Straight Pride Parade de São Paulo, que não teve o mesmo apelo popular (umas 15 pessoas), mas que merecia maior cobertura da mídia. O slogan era "muitos são, poucos se orgulham". Aliás, a parcialidade da imprensa me lembra aquela história: no começo, a coisa era proibida; se tornou permitida, depois aceita e agora é motivo de orgulho; fujamos antes que vire obrigatória.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Geopolítica e apnéia: duas lições de um primo bobão

Era verão. Estávamos recuperando uma das heróicas greves da UFRGS, daquelas que não devem ter dado em nada além de fazer-nos aproveitar as férias de verão na praia em abril e maio. Nunca passei dias mais desolados em Imbé.

Um primo do PV, do qual nunca seria capaz de lembrar o nome, estava passando uns dias hospedado na já então famosa casa da Vila Jardim. Acho que devia ser fim de semana, e o Cecconi e eu fomos até lá para passar a tarde brincando com os dois primos.

Nessa tarde, fomos jogar um arremedo de pólo aquático em uma piscina de mil litros, em que todos davam pé. Não sei por que achamos que isso ia dar boa coisa. Os times foram divididos por critérios genéticos: arianos puros contra a família Magalhães de Oliveira.

Os gols eram duas cadeiras de plástico colocadas nas bordas da piscina. Obviamente, a pacífica recreação logo tomou contornos de uma nem tão civilizada batalha campal.

Em um dado momento do jogo, o primo do PV pegou a bola e não respondeu positivamente aos pedidos educados que Cecconi e eu dirigimos a ele para que entregasse sem resistência a bola para o nosso time.

Como ele mostrasse uma força de vontade surpreendente (apesar de suicida) em resistir aos puxões para tirar a bola dos seus braços, Cecconi e eu tivemos quase ao mesmo tempo uma idéia que poderia resolver a situação sem prejudicar o espírito esportivo de lealdade que até então coroava a disputa.

Submergimos o primo do PV. Levado por um reflexo ancestral que manda aniquilar o adversário, coloquei o joelho sobre o peito do infeliz, enquanto o Cecconi segurava os braços do cuidado. Lembro de algumas bolhas de ar subindo à superfície, enquanto o PV gritava algo como: “Meu primo! Não afoguem o meu primo!”

Esse acabou sendo o último lance da partida. Por alguma covardia descabida, o time dos Magalhães de Oliveira abandonou a piscina e deixou a vitória para os valentes arianos.

Mas as desventuras do primo do PV naquela tarde estavam apenas começando. Recuperado da apnéia forçada, ele provou ser totalmente desprovido de empirismo, pois logo depois fomos jogar WAR. E ele confiou cegamente na minha lealdade esportiva.

Em todas as nossas partidas de WAR uma estranha coisa acontecia com freqüência: tanto na minha carta de objetivos como na do Cecconi vinha escrito “Eliminar os exércitos do PV, onde quer que eles estejam”. Estranho, mas regras são regras.

Nessa partida em particular, eu fiquei posicionado nas Américas do Norte e do Sul, mas o PV estava dividindo a Ásia e a Europa com o primo dele. Pelo que me lembre, com seus talentos de marechal-de-campo, o Cecconi ficou restrito à África do Sul depois de cinco rodadas.

No decorrer do jogo partimos para a tática em que éramos mais competentes: a formação de alianças de não-agressão com o objetivo de deixarmos frentes livres para atacar o beiçudo. Uma dessas alianças foi firmada entre o primo do PV e eu. Não nos atacaríamos entre a América do Norte e a Europa.

Depois de trocentas rodadas em que provei ser incompetente para atravessar o Estreito de Bering com os meus exércitos setentrionais, comecei a colocar todas as unidades que ganhava a cada rodada no território de Labrador. Logo, tinha formado um paredão de peças ao lado da Islândia, que o primo inocente defendia com um único exército. Confiante que eu nunca iria romper o tratado.

A cada rodada que passava e que o priminho deixava de colocar peças na Europa, e PV dava gemidos de agruras, derramava lágrimas de ódio malcontido e tentava ser irônico e indireto com frases do tipo: “Tem gente burra no mundo, mesmo. O Café está colocando os exércitos ali para quê será?!”

Obviamente, o tratado foi quebrado, o primo bobão foi varrido do jogo, o PV apanhou durante algumas rodadas. E o Cecconi, que tinha ficado quieto juntando exércitos na África do Sul, ganhou o jogo ao dominar 18 territórios.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Campeão

No melhor estilo Martelli, um alemão de 43 anos caiu de uma sacada no segundo andar ao disputar cuspe a distância. Isso mesmo. Aparentemente, o abobado exagerou no impulso e perdeu o equilíbrio. O pior é que seu "adversário" era o filho de 12 anos.
[Notícia]

Não tem culpa eu

Um dia começa bem quando, antes das 8h da manhã você descobre que a empresa na qual trabalha há menos de um ano resolveu patrocinar pela primeira vez, no seu estado e com verba da sua área (no caso, comunicação), a Parada do Orgulho GLBT (acho que é Gays, Lésbicas, Boiolas e Travecos). Aguardo ansiosamente as piadinhas.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Falácias Corporativas

Não há businessman (1) brasileiro que não tenha ido a um meeting (2), feito um budget (3) ou alavancado (4) as posições da empresa. Muitos startaram (5) uma campanha, outros se preocuparam com o timing (6) de uma ação, ofereceram soluções de classe mundial (7) e conversaram com players (8) para estreitar relações B2B (9) e B2C (10).


Alexandre de Santi assina matéria na Zero Hora deste domingo sobre um livro bem interessante para um blog que leva em seu nome Falácias. Eu já havia tido contato com o livro Por que as pessoas de negócios falam como idiotas antes de ser traduzido para português. Isto porque dois de seus autores são profissionais de uma empresa de consultoria que eu atendo e eu devo ter lido sobre a obra em algum clipping. Lembro que li e pensei que seria legal ver a obra em português. E mais legal ainda seria se o negócio que deu a idéia para o livro tivesse aqui também.



Ok, o livro descobri agora que tem, mas o outro troço é muito bom. É um programa executável de computador que funciona no Word tipo o corretor ortográfico. Chama-se Bullfighter e é um verdadeiro caçador de legítimos bullshits do dia-a-dia corporativo. Aí tem um negócio que eu não sei bem, mas parece que falta um termo local para bullshit. O livro e o texto do Santi tratam de traduzir o termo como "jargões", mas sei lá. Pra mim é mais como falar merda mesmo (e daí tem um outro livro sobre isso...)

O site é todo cheio de graça, videozinhos engraçados e com um faq neste nível:

Q: I have an Atari 2600 game console and Bullfighter appears to be hanging up when I run it at the same time Space Invaders is loaded. What versions of Windows or other operating systems do you need to run this fine piece of software?
A: Bullfighter is happiest in Windows XP and Office 2002 or 2003. It really works well. Sometimes it works in Windows XP and Office 2000, but sometimes it doesn't. Occasionally it doesn't work, usually, in Windows 2000 and Office 2000, during high tides and depending on the phases of the moon. Far be it from us to suggest you upgrade to Office 2003, but we recommend it.

Q: My art teacher in school uses a Macintosh. Can he run Bullfighter?
A: No. We do not currently support Macintosh, PlayStation or Xbox.


Sobre os autores, a assessoria de imprensa divulga que um é “jargólatra” em recuperação. Depois de produzir grande parte dos textos que contêm o pior jargão que o mundo da consultoria empresarial já conheceu, admitiu formalmente sua dependência e entrou num desses programas de 12 passos. Outra é capaz de detectar enrolação e factóides a quilômetros de distância e passou sua vida profissional auxiliando empresas a trocar o dialeto corporativo por comunicações mais sinceras e humanas. O terceiro foi campeão de ortografia na escola e liderou o desenvolvimento do Bullfighter.

Enfim, acho que é inevitável trabalhar neste mundo corporativo sem passar por estes jargões. Ouço-os todos os dias. Uma pesquisa desta mesma empresa que atendo apresentou a clientes de lanchonetes nos EUA dois textos corporativos, um com jargões e outro sem. Pesquisados sobre a impressão que tiveram das empresas, a que usava jargões foi qualificada como não-confiável. A outra, como amigável. E devo confessar que a própria consultoria tem lá seus jargões.

Pra fechar, alguns exemplos do livro:

Mudança de paradigma: Se a novidade não for importante como as descobertas de Copérnico sobre o sistema solar, não é uma verdadeira mudança de paradigma.

Voltado para resultados: Expressão inútil, por ser óbvia. Nenhuma empresa realiza projetos por puro prazer.

Classe mundial: Se algum produto precisa alardear que é de classe mundial, provavelmente não o é.

Minha Vida

Clique na foto para ampliar.

O Mundo é Torto

Para legar à posteridade uma imagem positiva, reis e regimes sempre tiveram a seu favor a subserviência dos historiadores oficiais, com uma visão pra lá de parcial da realidade. Pois o regime do Pensamento Único também tem seus cronistas míopes, subservientes, cínicos e mal-intencionados. O Mundo é Plano (Ed. Objetiva, 2005) de Thomas L. Friedman, é um exemplo perfeito. A proposta ousada (para não dizer arrogante) é a de contar em 2005 uma breve história do século XXI. E a pretensão fica completa com a constante comparação com Colombo, que partiu para as Índias para provar que o mundo é redondo. Friedman teria ido para a Índia provar que ele é plano.

Na verdade, no aspecto estritamente histórico, Tom não se deu tão mal quanto se esperaria de um livro tão precipitado. [Leia mais]

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Poker Showdown

Já que vocês parecem mesmo levados por uma precoce síndrome de meia-idade, vou entrar também nessa onda saudosista e compartilhar uma lembrança ambientada na casa da Vila Jardim.

Certa tarde, estávamos, o PV, o Cecconi, a Renata Steffen e eu, lá e resolvemos jogar pôquer. Eu nunca havia jogado e não sabia absolutamente como se jogava. Mas, obviamente, disse que sabia e inclusive que já havia ganho muito dinheiro fácil em mesas de apostas pelo mundo. Petulância e arrogância numa combinação bem característica.

Para disfarçar minha completa ignorância, corri para garantir a cadeira posicionada logo depois da ocupada pela Renata, que havia declarado logo ser uma neófita no carteado e virado automaticamente o alvo de todos os blefes que viriam durante o jogo. Afinal podíamos ser feios, mas nunca deixamos de ser cavalheiros.

Primeira rodada. Todos fazem as apostas iniciais. O PV cobre e levanta a aposta. A Renata aceita e aumenta ainda mais. Cecconi e eu desistimos. PV aceita e blefa ridiculamente, sendo traído apenas por uma baba de excitaçcão que escorre em cima da patética dupla de dois que estava na sua mão.

A Renata, muito segura de si, resolve dar uma lição no bobão e aposta tudo que tem. O PV, já de pé, aceita.

Cartas na mesa. A Renata mostra, feliz, uma seqüência numérica de naipes diferentes. Risos sardônicos de todos os lados. O PV lança triunfante a sua dupla de dois sobre a mesa como o neanderthal que joga uma perna de antílope diante da tribo faminta. Risos de graça, palmas de satisfação e jorros de baba de misturam no ar da sala.

A única a manter um silêncio aborrecido foi a Renata que até hoje não entendeu por que perdeu se foi ela que fez a canastra.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

terça-feira, 29 de maio de 2007

Só amanhã (ou não)

Ok, já que o nosso letreiro cor de rosa está consagrado, amanhã terá um post-homenagem. Preparem-se para conhecer a Fabico como ela é hoje, incluindo as portas roxas.

Update: Me perdi no tempo ao refletir que o amanhã de ontem é hoje e acho que por isso esqueci de levar a máquina na Fabico. Fica pra semana que vem. Daí posso aproveitar e fazer um "Por onde anda", estilo Milton Neves dos professores de lá.

Furos que Abalariam a República se alguém lesse o Falácias

“O HOMEM QUE COPIAVA”

Conquistar o poder central trás algumas vantagens inusitadas, ou nem tanto, que permitem aos governantes deixar o passado ser apenas isso mesmo – passado – e trabalhar com novos horizontes.

Com o governo Lula, apesar de todas as nossas esperanças alimentadas durante anos em comícios e greves, isso não poderia ser diferente. Pelo menos não depois dos escândalos do primeiro mandato.

Ter o controle de algumas instituições federais permite fazer com que esquemas como o das agências de publicidade ou das empreiteiras se tornem mesozoicamente obsoletos. Que coisa poderia ser mais antiquada do que andar por aí com maletas cheias de dinheiro, se arrastando por lobbies de hotéis cheios de câmeras indiscretas para comparecer a reuniões “republicanas”? E ter que explicar a origem de recursos tão indiscretamente fuxicados pelo Coaf? Que coisa pouco digna!

A Casa da Moeda, tão pouco lembrada por todos nós, por exemplo, pode ser um espólio bastante interessante para aqueles que galgaram em companhia de tantos amigos discretos e prestativos os altos degraus da política.

Prova disso foi um esquema que ainda se mantém silencioso aos ouvidos pouco atentos que cobrem (nos dois sentidos) os movimentos de Brasília.

O funcionário que queria delatar o esquema procurou um operador do PSDB no ano passado, apenas alguns meses antes das eleições presidencias. Marcaram um encontro, para variar, em um hotel de Brasília.

Sobre a cama, o funcionário abriu uma maleta com diversos maços de notas atadas com a fita da Casa da Moeda. Pegou dois desses maços e passou para o operador. Pediu que ele olhasse os números de controle das notas.

Para espanto do operador, eram iguais em ambos os maços.

Para que desviar dinheiro, transferi-lo de conta em conta, mandá-lo através de laboriosos doleiros para o exterior, se se pode apenas imprimi-lo?

O funcionário pedia R$ 1 milhão pelo material. E segurança.

O partido tucano, por algum motivo, não aceitou pagar. O operador repassou o contato para alguns veículos de imprensa que, por outros motivos, igualmente não quiseram pagar pelas provas. A história mofou e ainda espera o momento de ser tornada pública junto com tantas outras que tiram as nossas pudicas inocências.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Dois filmes maravilhosos; um detestável

Zodíaco, de David Fincher, que estréia nesta semana, e o italiano Vermelho como o Céu, de Cristiano Bortone, são filmes imperdíveis que já considero fortes candidatos para melhores do ano. O arrasa-quarteirão holliwoodiano e o modesto italiano guardam duas semelhanças que fazem deles bons filmes: roteiros competentíssimos e histórias que são todas de verdade. O terceiro é o brasileiro Baixio das Bestas, que nem merecia ser citado no lead.

Fincher, que tem os ótimos Se7en e Clube da Luta na cinematografia, conseguiu fazer novamente algo raro em Los Angeles: um filme policial de investigação inteligente e sem tiroteio e sangue espirrando na tela. Menos aqui é mais.

O filme é inspirado no caso de um assassino em série que agiu, sem nunca ser desmascarado, durante o final da década de 1960 e início da de 1970 em São Francisco. Ele se auto-nomeava Zodíaco e mandava bilhetes com códigos a serem decifrados para jornais e polícia.

Um jornalista, na verdade um cartunista, fica obcecado com os códigos e destrói a sua vida pessoal tentando decifrá-los. (Na vida real, ele perdeu a mulher, mas ficou milionário escrevendo best-sellers sobre o caso. Não consegui descobrir nada sobre a ex-mulher, mas talvez tenha valido a pena!)

O achado do filme foi não se render à violência dos crimes de Zodíaco. Coisa que poderia acontecer facilmente nas mãos de Fincher dado o seu histórico um pouco, digamos, propenso para a agressividade. Mas o roteiro de James Vanderbilt prende a atenção do espectador na trama do código e na obcessão do cartunista, vivido pelo eterno (ele nunca vai superar a pecha!) cowboy viado Jake Gyllanhaal.

Vermelho como o Céu passou quase despercebido pelo circuito de São Paulo e não tenho certeza se chegou a ser exibido em Porto Alegre. É a história de um menino, Mirco Mencacci, que aos dez anos fica cego depois de um acidente com uma espingarda do pai. De acordo com as leis italianas do início da década de 1970, cegos eram considerados deficientes e deviam ser mandados para internatos onde aprendiam a empalhar cadeiras e tecer tapetes. Como sabemos desde o início, o garoto se tornará um dos mais respeitados editores de som do cinema e da TV italianos.

A grandeza do filme está em conseguir driblar a pieguice que a história do “jovem-cego-que-supera-barreiras-e-vence-na-vida” facilmente oferece para o cineasta. O roteiro é sensivelmente construído para dar ao espectador uma experiência idílica de sons, que chega a ser, em muitos momentos, mesmo poética.

O filme lança ainda uma crítica inteligente à Igreja Católica. O internato de Mirco é mantido pela Igreja e as aulas são dadas por freiras e padres que simplesmente põem para tocar fitas K-7 (chamadas de áudio-livros). Mirco, encontra um gravador velho e passa a gravar sobre os áudio-livros; fazendo montagens de sons e narrações que formam histórias fantásticas de castelos, princesas e dragões.

Um toque maravilhoso da produção é o fato de todas as crianças do filme serem realmente cegas. Com destaque para o jovem Luca Capriotti, que faz o protagonista. Um filme bonito e tocante sem ser chorão.

Ninguém ia ver esse filme mesmo, mas, pelo menos, agora vocês têm alguns motivos para desdenhar Baixio das Bestas, de Cláudio Assis. É daqueles filmes que nos forçam, por mais que a gente lute contra essa tentação, a menosprezar o cinema nacional. Afinal de contas, por que cinema brasileiro tem que ter prostituta, palavrão, cafetão, putaria? E por que cinema brasileiro é o único do mundo que pode se furtar a ter enredo?

O roteiro dessa pornochanchada perdida no tempo é de Hilton Lacerda que já havia feito dobradinha com Assis, no mais que defectível Amarelo Manga. Aliás agora os dois já me devem três horas de vida que disperdicei assistindo a esses dois filmes.

Eu não consigo entender por que os cineastas nacionais insistem em fazer filmes sobre realidades que não conhecem. Filhos das classes altas, educadas, das grandes cidades, eles têm uma síndrome de culpa despropositada que os obriga a se lançar em empreitadas quixotescas como retratar o nordeste famélico e degredado com os instrumentos de crítica social que eles apreendem nos centros urbanos (leia-se nas aulas de Sociologia da USP). Resultado: uma cidade prostíbulo no sertão. Um filme cheio de nus frontais e bebedeiras, palavrões e violência. O espectador que se dane para extrair um sentido disso tudo.

domingo, 27 de maio de 2007

Enquete #1

Qual dos integrantes deste blog, delirando depois de jogar bola (sob um calor de 40 graus), balbuciava "O Araketu é bom demais..."?:

( ) PV
( ) Café
( ) Álvaro
( ) Cecconi
( ) Gustavo

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Basta


Diante das recentes (e justificadas) reações femininas à violência sexual doméstica continuada e em face da profunda e importantíssima polêmica parlamentar, quero manifestar meu repúdio pessoal a qualquer forma de machismo, conclamando os colegas blogueiros a fazer o mesmo. Essa declaração é oportuna tendo em vista as possíveis interpretações errôneas que alguns mal-intencionados podem fazer do conteúdo de certos posts desse blog.

Para tanto, tomei a liberdade de redigir uma Carta Aberta Contra o Machismo, que faz duras críticas às idéias do Neomachismo e do assim chamado Machismo Racional, movimento que pretende justificar idéias ultrapassadas com uma falsa e imperfeita noção de racionalidade. Segue o conteúdo integral da declaração:

CARTA ABERTA CONTRA O MACHISMO

O blog Falácias Felpudas, embora respeite o direito à livre-expressão, condena firmemente o machismo e quaisquer atos ou declarações que coloquem as mulheres em posição desfavorável, humilhante ou desconfortável. O machismo é uma praga que assolou o mundo por muito tempo e que resiste ainda apenas na cabeça de alguns poucos remanescentes, certos machões insensíveis, grosseiros e retrógrados, que ainda pensam que a beleza é a única virtude possível para uma mulher.

Entendemos como lendária e claramente fantasiosa a noção comum de que mulheres não sabem dirigir/fazer balizas, decorar senhas bancárias, entender o funcionamento de aparelhos eletrônicos, conviver pacificamente com suas pares, assistir um filme ou o Jornal Nacional sem fazer perguntas, contar piadas, compreender as complexas regras do futebol ou ficar de boca fechada por um minuto.

Também desprezamos piadas que de alguma forma denigrem a imagem da mulher, como uma que diz que para casar com uma mulher bonita, rica, jovem e inteligente um homem precisa casar quatro vezes. Ou aquela da pergunta: “o que tem cerca de 20cm de comprimento, mais ou menos 5cm de largura e deixa as mulheres malucas? Resposta: o dinheiro”. Ou ainda a que sugere que a melhor parte do sexo oral são os dez minutos de silêncio.

De maneira nenhuma aprovamos a imagem que a mídia tem difundido de que as mulheres são meros objetos, inclusive com a intensa exposição de seus corpos para fins de publicidade rasteira (de cervejas, principalmente) e venda de revistas machistas e degradantes. Para reforçar essa posição, nos negamos a consumir esses tipos de produtos. Ainda falando sobre a mídia, é importante ressaltar que nós não aceitamos o argumento de que mulheres são fúteis, até porque as estatísticas provam que são os homens a maior parte dos leitores de revistas como Capricho, Caras e Tititi. Também não entendemos como direta a relação entre os interesses femininos e os assuntos tratados em revistas como Cláudia, Nova ou Manequim. Essa desconexão com os interesses reais da mulher moderna certamente está levando esse tipo de publicação à falência.

Por fim, rejeitamos a interpretação absurda de que a categorização masculino/feminina das competições esportivas seja um indicativo de inferioridade da mulher em aspectos como força, impulsão, resistência, agilidade, velocidade, pontaria, equilíbrio e coordenação motora. No caso do xadrez feminino, nos abstemos de fazer qualquer comentário.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Só machistas ridículos ainda acham que mulheres não entendem de futebol

Rir da explicação sobre a regra do impedimento que transcrevo, me valeu uma semana sem sexo.
- É óbvio que eu sei quando o cara está impedido. É quando o jogador avança com a bola para o gol. E a defesa do outro time não está onde deveria e fura. E o goleiro também desaparece.
Aguardem o próximo post da série, explicando a diferença entre escanteio e lateral.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Aleluiamania

Fui surpreendido ao ler que o técnico da Seleção, Dunga, provavelmente se valeu de um olheiro eletrônico na sua última convocação. O You Tube teria sido decisivo para fazer Afonso, artilheiro do Campeonato Holandês, vestir a amarelinha. Fato que automaticamente me dá o direito de defender, também por vias digitais, a inclusão de um craque de mesmo quilate na lista.

Há cerca de um mês, passei uma semana de férias em Fortaleza. Peguei alguns dias chuvosos, que me obrigaram a trocar o espetinho de camarão na praia pelo controle remoto na sala.

Num programa esportivo local, a grande polêmica era a seguinte: o treinador do Ceará Sporting Clube (único do Norte-Nordeste a ir pra Conmebol, segundo pôster que li num boteco) estava colocando a estrela Reinaldo Aleluia no banco, para o segundo jogo decisivo da semifinal do Cearense.

Preste bastante atenção leitor, porque não é todo dia que você vê as palavras “estrela”, “Reinaldo” e “Aleluia” juntas.

Os comentaristas da mesa discutiam, argumentavam e se debatiam questionando a afronta que o treinador Marcelo Vilar fazia à torcida. Como assim Reinaldo Aleluia no banco? Um deles chegou a dizer: “A gente logo vê quando o jogador não tem intimidade com a redonda. E se há alguém no elenco do Ceará que sabe jogar bola é o Reinaldo Aleluia”.

Depoimentos indignados nas ruas reforçavam a posição da mesa. A “Aleluiamania” era uma febre de deixar mosquito da dengue enciumado.

E não terminava aí. O apresentador, um gordinho com pescoço de cágado, chama um VT do próprio Aleluia: “É. O torcedor sabe. Eu entro e resolvo”. Humildade à la Romário. Tenho certeza que a TV local está preparando um especial para quando o atacante marcar seu centésimo gol.

Depois de 1 hora, desliguei a TV convencido de duas coisas:

1) Padim Ciço precisa urgente de um marqueteiro, ou Reinaldo Aleluia vai roubar seus devotos fervorosos.

2) É hora de vestir minha sunguinha porque o tempo está abrindo.

Não acredito que paixão tão cega por um futebolista não tenha fundamento. Por isso, levantei a bandeira branca e dei o braço a torcer. Quero ver Reinaldo Aleluia no escrete canarinho. Até porque desconfio que a RBS e a Guaíba não pretendem transmitir tão cedo os jogos do Estadual de lá.

Além do subjetivo que move o amor do torcedor cearense, as razões objetivas para a convocação são evidentes.

90% dos turistas que visitam o Ceará são italianos. Tanto os internacionais quanto os domésticos. É muito natural se deparar nas praias com Rossis, Signorinis, Cannavaros (leia com aquela pronúncia do Vanucci) e, veja você, até Spagnolis. Ora, a pátria campeã mundial de futebol não aterrisaria por acaso naquela parte do Brasil.

Galvão Bueno jactaria-se. Depois de Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, o “R” de Reinaldo Aleluia inflaria seus pulmões, subiria lancinante pela traquéia, sacudiria sua língua e arremessaria prazerosos perdigotos no rosto do Arnaldo.

Pro Governo Lula, seria excelente ter um representante da região que mais votos lhe deu, o Nordeste, na Seleção. Já pensou o Aleluia marcando um gol em Wembley, tirando a roupa na comemoração, sendo preso e dando entrevista na BBC? “Nenhuma costela aparecendo. É o sucesso do Fome Zero no Brasil!”. Pensando bem, Ronaldo Ex-fenômeno já cumpre bem essa função.

E a Igreja Católica, hein? Pra conter a migração de fiéis, que tal a imprensa inteira bradando “Aleluia!”?

Acabo de acessar um site esportivo e descubro que o atacante foi colocado pra treinar em separado do grupo principal. Lógico. Com a Copa América agora em junho, certamente já está se preservando.

Sobre caciques e índios na redação

Pego uma carona no que o Cecconi escreveu sobre as experiências dele como funcionário e pobre “porco manipulado” e dou, sem graça nem brilho, meu pitaco de estréia no blog sobre as relações entre editores e repórteres dentro das redações.

Temos todos a convicção íntima de que algo não funciona apropriadamente bem. Como deixou transparecer nosso amigo, o convívio é atritado e pouco produtivo. Isso se deve a um fato muito simples que teima em não entrar na cabeça dos jornalistas. Editores e repórteres fazem negócios diferentes. Negócios que muitas vezes caminham em sentidos opostos.

Repórteres querem e se preocupam em fazer jornalismo. Editores prezam pelo aspecto administrativo da empresa. Há exceções, óbvio, entre os primeiros. Entre os segundos, se houver, não deverá durar muito no emprego.

Repórteres têm o olhar voltado para fora da redação. Se preocupam em pensar pautas que interessem ou sejam importantes para os leitores. Querem ganhar prêmios de investigação, derrubar ministros, fazer barulho, salvar a pátria. Editores querem manter os borderôs controlados, sem fazer barulho, sem chamar a atenção em demasiado para as suas editorias. Bons funcionários não causam problemas, resolvem-nos para o patrão.

Os editores querem equipes dóceis. Que não exijam muito para coordenar. Não querem de jeito nenhum reportagens que provoquem contestações de governadores, cartas de minsitros, processos de bandidos. Querem os departamentos jurídicos ociosos.

Quando foi a última vez que uma investigação jornalística derrubou uma autoridade? Quando foi que jornais e revistas lançaram algum grande caso de repercussão? Quando soltaram seus cães às ruas para apurar verdadeiramente uma história? O jornalismo está andando tristemente a reboque da Polícia Federal e do Ministério Público.

Denúncias feitas por fontes para repórteres não contam mais com a confiança dos editores. Os próprios jornalistas já não contam com essa confiança. E as fontes mínguam num caldo de apatia. Quantas vezes os jornalistas passam o dia atrás de uma boa pauta, apurando, checando, escrevendo. E brigando por espaço na edição do dia seguinte, argumentando, discutindo para descobrir que lançam súplicas contra ouvidos moucos?

Eu sempre achei que os jornais deveriam correr, pedindo aos jornalistas boas matérias para preencher as páginas tão caras do dia seguinte. Mas a mão dessa via está invertida. E os critérios empregados para a publicação de uma reportagem apontam mais para o baixo potencial de dano que as “denúncias” podem ter do que para aquilo que é importante para a sociedade saber.

Cortando por baixo, todos ficam com a mesma cara. Tudo tem o mesmo gosto de canja morna. O resultado disso está numericamente demonstrado nas tiragens. A Folha de S.Paulo, por exemplo, imprime hoje 250 mil, 270 mil exemplares diários. Um terço do que tirava há dez anos. O Gustavo pode dizer o impacto que isso tem para o mercado de publicidade. PV e Álvaro podem testemunhar qual é o nível dos repórteres que entram em contato com as assessorias de imprensa.

Para os leitores o resultado são publicações insossas, sem brilho, sem graça, sem diferenças entre si. O pessoal com seus vinte anos hoje nunca vai assinar um jornal depois que sair da casa dos pais. Não há nada ali que não tenha sido lido antes na internet. E de graça. Não há nada ali que interesse em particular. Não há nada ali que exalte alguma inteligência diferente. Nada que represente uma novidade.

Essa tibieza editorial será a laje tumular do jornalismo.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Não seja por isso


Agora fechou todas pro Spanholi.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Carta aberta pela valorização da palavra “amigo”

Esse blog não tem foto da Ellen Roche, mas me encho de alegria cada vez que o acesso. Graças à ele, tenho a possibilidade, ainda que virtual, de reviver um passado recente, coisa de 7, 8, 10 anos atrás (ok, retiro o “recente”). Tempo em que o encontro promovido aqui com o Cecconi, o Álvaro, o PV e o Café acontecia ao vivo no pátio da Fabico. Se o Criador não os abençoou na parte de fora, tenho certeza que guardou tudo para a parte de dentro. Sinto-me honrado de voltar a trocar idéias com mentes tão brilhantes como a destes caras. Enquanto muita gente pagava mensalidade por uma sessão de abdominais na academia, as piadas deles me faziam voltar pra casa com dor na barriga de tanto rir. Sem custo algum.

Estar em contato com eles já cria, na minha cabeça, um padrão de exigência para a palavra “amigo” bastante difícil de ser superado. Tanto que me revolto ao observar as tentativas de uso dela que existem por aí.

Por exemplo. Todo mundo conhece o tipo. Veterana da noite, trinta e lá vai pedrada, fica toda feliz quando o segurança pede a identidade na porta do Roseplace. Afinal, na sua mente vazia ecoa a idéia de que duvidaram que ela era maior de 18. É sua vizinha, e só a presença dela no edifício já contribui para a desvalorização do seu imóvel. Pois bem. Você ali, tentando pegar no sono na noite de quinta-feira e ela fazendo barulho com o salto carcomido no corredor, o pé que é um leque pra sair na rua, falando alto com a companheira de caçada:

- Tu sabe o Vaguininho né? O que toca tan-tan na Bons Vivants do Pagode? Pois é...é meu amigo...

Com todo o respeito, minha filha, mas amigo é o cacete. Usar tua cortina para higiene pessoal, após ato libidinoso com a tua participação, não é sinal de amizade. Prometer tocar “Parabéns à você”, versão pagode, num churrasco no meio do Parque da Harmonia que jamais sairá, não é sinal de amizade. Dizer que tu é a mãe ideal para o oitavo filho dele, e que já imagina todo mundo junto na mesma casa no Portoverde, não é sinal de amizade. Até porque, minha filha, amigo não costuma fazer visita ao teu apartamento no mesmo horário que eu assisto o Bom Dia Rio Grande.

Acontece também a deteriorização da palavra “amigo” no segmento dos vendedores de carros usados. É óbvio que há os honestos. Mas a maioria é conhecida pelo nome daquela ferramenta utilizada no trabalho dos mineradores e popularizada pelos serial killers. E é como uma pepita de ouro, mas sempre querendo teu fígado, que esses sujeitos te enxergam. Para conseguir seu intuito, abusam de expressões desprovidas de qualquer credibilidade, como “Meu bruxo”, “Meu grande” e “Meu bom”. E cometem também o uso de “Meu amigo”, jogando-o numa vala comum. Não ficam vermelhos ao oferecer um carro com fábrica no Rio Grande do Sul. Que Celta que nada: é um arremedo de Brasília, Fusca e Variant, confeccionado em algum ferro-velho da Grande Porto Alegre. Sinto pena dos desavisados que sucumbem à lábia Mike Tyson desses “amigões”: quando você vai ver, já foi.

“Amigo” denota estima e apreço. Consideração e importância. Uma certa dose de intimidade (mas vê lá que intimidades são essas, hein?). Chamar alguém assim é o mesmo que assinar um contrato dizendo que você vai estar lá presente empurrando o carro atolado (aquele fabricado no RS) no meio da Transamazônica, bem perto da tribo de ianomâmis canibais. Que vai agarrar aquele monstro, única piloto mulher da fórmula Truck, só porque ele se deu bem e pegou a amiga bonitinha. Que você não vai contar pra ninguém – embora vá morrer de rir sozinho - o segredo confiado de que ele tatuou uma Betty Boop no cócsis e agora está arrependido.

Pela sinceridade nas relações e pelo uso adequado dos vocábulos da língua portuguesa, cuide quando você for usar essa palavra, amigo leitor. Quer dizer, por enquanto, só leitor. Pelo menos até eu saber quem você é direito.

Pelúcia







Meu estilo de presente!

vai greminho!!!



Um dos autores desse blog, fotografado enquanto esperava ansiosamente a homogeneização carnal da avalanche gremista.

sábado, 19 de maio de 2007

Boas vindas

Post pessoal número 1

Acabo de me mudar. Um apartamento quarto e sala a menos de uma quadra de onde já morava, cinco minutos do trabalho. Quarto e cozinha já montados e uma sala decorada com muitas caixas.

Estou na fase dos primeiros contatos com vizinhos e vizinhas. Todos muito simpáticos a princípio, dando-me boas vindas. Eis que hoje instalo o pacotão da NET: TV, internet e telefone. Tudo funcionando beleza, como esta postagem atesta.

Mas, para retribuir a gentileza dos meus vizinhos, passo uma reprimenda no instalador que estava a assobiar alto no corredor do edifício enquanto trabalhava neste sábado às nove da manhã. Só que toda minha cordialidade acho que nada valerá, já que o instalador volta ao apartamento anunciando:

- Matei quatro gatos!

Tudo indica que havia uma rede de TV a cabo clandestina formada por todos os apartamentos. Sem assobiar, o cidadão trocou toda a fiação do edifício e eliminou todas as ligações anormais.

Agora sim estou apresentado para a vizinhança.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Lâmpada

Post Test Drive

Pra marcar a presença de um publicitário no meio de tantos jornalistas e RPs, aí vai um anúncio.

Vendo Celta 02 com ar. R$ 18 mil. Tratar F.: (51) 93641909

Tira o olho

Esse post é um teste para facilitar a edição deste blog. As opiniões nele expressas não representam necessariamente a opinião de todos os autores.