segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Cinemais

Gurizada,
A partir de amanhã, estará no ar para valer o blog Cinemais, editado por mim (cinemaisbrasil.blogspot.com).
Assim eu livro o Falácias Felpudas dos longos e tediosos textos sobre cinema.
Espero os comentários dos senhores por lá.

grandes abraços

Tropa de Elite não pára em pé

Dá calafrios quando leio por toda a imprensa (e repetido por gente inteligente também) que o filme de José Padilha é ótimo e um dos melhores já feitos no Brasil.

Calafrios porque sob qualquer ponto de vista que se tome esse adágio da filosofia brucutu, do pega e arrebenta, ele não se mantém em pé.

Além de ser fascista e maniqueísta em seu discurso, o filme é uma obra de arte capenga e com incongruências absurdas.

Vamos aos meus pontos de vista sobre a obra.

Para começar, Padilha não reconhece a diferença entre documentário e ficção. Um documentário serve para traçar um retrato de uma realidade qualquer. Nunca se pretende esgotar um assunto em um filme de duas horas, mas, tal como em uma boa reportagem, deve-se tentar atacar a pauta por todos os lados possíveis. “Tropa de Elite” é simplista apresentando apenas um discurso fechado e único. Todos os personagens e o narrador concordam que a solução para a violência no Rio é quebrar a coluna do tráfico na porrada, que o consumo de drogas é a causa da violência, que repressão é a única solução.

Como documentário, o filme ignora que a causa da violência do Rio é um fenômeno complexo que resulta de um calderão de fatores entre eles as drogas, a pobreza, o desemprego, a proximidade entre ricos e pobres. Algum sábio, como Padilha, pode dizer que se se acabar com o tráfico de drogas a violência sumirá. Ao que uma pessoa bem menos culta a respeito dos meandros sociológicos do Rio vai perguntar: mas então os seqüestros não vão aumentar? Os roubos a condomínios não vão substituir a indústria das drogas? Os assaltos a bancos não podem parecer uma opção interessante?

Mas o filme não é um documentário. Padilha se arrola o papel de arauto de um problema que ele não aborda. O morro do Rio é apenas um pretexto para contar uma história de ficção, mesmo que ela seja enriquecida por cenas baseadas em relatos reais.

E como obra de ficção, o filme, infelizmente, tinha todos os elementos para ser grande, realmente um dos maiores já feitos no Brasil, mas escorregou em uma série de inépcias dos seus criadores.

Ele é realmente bem filmado, uma câmera nervosa competente. Mas isso não é novidade. Wagner Moura realmente está muito bem. Mas o seu personagem é nulo em profundidade.

Falando em personagens: quem é o personagem principal do filme? Para a maioria das pessoas que me responderam essa pergunta, é o Capitão Nascimento. Segundo o próprio José Padilha, o personagem principal é Matias. Eu concordo com ele, Matias deve ser o protagonista. Mas isso fica mascarado pelo fato do Capitão Nascimento ser o narrador da história, dando o tempo todo a sua versão distorcida dos fatos.

Uma coisa que se pede de filmes de ficção é que os personagens evoluam, que comecem em um ponto A e terminem num ponto B. Capitão Nascimento começa o filme como um brutamontes assassino que tortura e manda matar. E acaba como um brutamentes assassino que tortura e manda matar.

E o pior é a avaliação feita pelo narrador dos atos de Matias. Quando ele entrou na faculdade, “estava cometendo uma puta cagada”. Quando começou a namorar a guria rica, também. Quando foi para a ONG, então, se condenou. E cometeu o maior absurdo quando foi para uma entrevista de emprego em um escritório de advocacia.

Ele só fez uma coisa certa quando fuzilou com uma 12 a cara de um traficante indefeso.

Ele é um personagem que evolui. Mas evolui para o mal e não é punido por isso. Tudo bem evoluir para o mal. Scarface fez isso. Taxi Driver, também. Mas como foi que eles terminam? Matias vira herói.

E todos os elementos estavam lá. Um conflito interessante: Nascimento ia ser pai e precisava fazer um sucessor antes de se aposentar. Dois jovens promissores. Um deles é morto pelo tráfico. O outro é um personagem complexo e dual com um pé dentro do Bope e outro na faculdade. Matias poderia fazer uma crítica interessante das operações criminosas do Bope dentro das favelas, vistas do ponto de vista de um estudante de Direito (que deve zelar pela legalidade); e, abordaria a visão de dentro da academia com a vivência das operações do morro.

Mas o contraponto acaba sendo uma aulinha ridícula de faculdade em que ninguém fala nada e palavras são postas na boca de Foucault.

Mais um filme ruim brasileiro. Esse com a desculpa de se colocar na conta do papa.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Pai adestrador

Lembrei esses dias de uma teoria muito inteligente, mas que vocês vão concordar comigo ser pouco humana, que o PV costumava propagandear durante a faculdade.

Ele contava de uma primo ou uma prima dele que tinha um filho que, segundo o PV, seria a criança mais bem-educada do mundo. Um moleque que não choraria, não reclamaria de nada e saberia o significado da palavra não.

Eu duvido que uma criança assim exista. Nada de "a-gente-já-tá-chegando?" ou "eu-quero-um-presente".

Mas o PV contava sobre esse ser mitológico e explicava o motivo para o comportamento supra-humano do priminho. Os pais, quando a criança era bebê, deixavam ele chorar até cansar ou chegar a hora de mamar (o que viesse primeiro).

Eles agüentavam no osso do peito (com a complacência dos vizinhos) os choros durante noites inteiras até que o moleque aprendeu que chorar não adianta. Afinal ele tinha os pais mais insensíveis do mundo e nada que rolasse dos olhos dele ou saísse de sua garganta parecia capaz de mudar esse cenário fatalista.

Queria saber no nosso amigo se a teoria está sendo colocada em prática no interior de São Paulo.

Devo fazer uma ligação para o Juizado da Infância e da Adolescência ou tu abriste mão da teoria?