segunda-feira, 4 de junho de 2007

Falácias Corporativas

Não há businessman (1) brasileiro que não tenha ido a um meeting (2), feito um budget (3) ou alavancado (4) as posições da empresa. Muitos startaram (5) uma campanha, outros se preocuparam com o timing (6) de uma ação, ofereceram soluções de classe mundial (7) e conversaram com players (8) para estreitar relações B2B (9) e B2C (10).


Alexandre de Santi assina matéria na Zero Hora deste domingo sobre um livro bem interessante para um blog que leva em seu nome Falácias. Eu já havia tido contato com o livro Por que as pessoas de negócios falam como idiotas antes de ser traduzido para português. Isto porque dois de seus autores são profissionais de uma empresa de consultoria que eu atendo e eu devo ter lido sobre a obra em algum clipping. Lembro que li e pensei que seria legal ver a obra em português. E mais legal ainda seria se o negócio que deu a idéia para o livro tivesse aqui também.



Ok, o livro descobri agora que tem, mas o outro troço é muito bom. É um programa executável de computador que funciona no Word tipo o corretor ortográfico. Chama-se Bullfighter e é um verdadeiro caçador de legítimos bullshits do dia-a-dia corporativo. Aí tem um negócio que eu não sei bem, mas parece que falta um termo local para bullshit. O livro e o texto do Santi tratam de traduzir o termo como "jargões", mas sei lá. Pra mim é mais como falar merda mesmo (e daí tem um outro livro sobre isso...)

O site é todo cheio de graça, videozinhos engraçados e com um faq neste nível:

Q: I have an Atari 2600 game console and Bullfighter appears to be hanging up when I run it at the same time Space Invaders is loaded. What versions of Windows or other operating systems do you need to run this fine piece of software?
A: Bullfighter is happiest in Windows XP and Office 2002 or 2003. It really works well. Sometimes it works in Windows XP and Office 2000, but sometimes it doesn't. Occasionally it doesn't work, usually, in Windows 2000 and Office 2000, during high tides and depending on the phases of the moon. Far be it from us to suggest you upgrade to Office 2003, but we recommend it.

Q: My art teacher in school uses a Macintosh. Can he run Bullfighter?
A: No. We do not currently support Macintosh, PlayStation or Xbox.


Sobre os autores, a assessoria de imprensa divulga que um é “jargólatra” em recuperação. Depois de produzir grande parte dos textos que contêm o pior jargão que o mundo da consultoria empresarial já conheceu, admitiu formalmente sua dependência e entrou num desses programas de 12 passos. Outra é capaz de detectar enrolação e factóides a quilômetros de distância e passou sua vida profissional auxiliando empresas a trocar o dialeto corporativo por comunicações mais sinceras e humanas. O terceiro foi campeão de ortografia na escola e liderou o desenvolvimento do Bullfighter.

Enfim, acho que é inevitável trabalhar neste mundo corporativo sem passar por estes jargões. Ouço-os todos os dias. Uma pesquisa desta mesma empresa que atendo apresentou a clientes de lanchonetes nos EUA dois textos corporativos, um com jargões e outro sem. Pesquisados sobre a impressão que tiveram das empresas, a que usava jargões foi qualificada como não-confiável. A outra, como amigável. E devo confessar que a própria consultoria tem lá seus jargões.

Pra fechar, alguns exemplos do livro:

Mudança de paradigma: Se a novidade não for importante como as descobertas de Copérnico sobre o sistema solar, não é uma verdadeira mudança de paradigma.

Voltado para resultados: Expressão inútil, por ser óbvia. Nenhuma empresa realiza projetos por puro prazer.

Classe mundial: Se algum produto precisa alardear que é de classe mundial, provavelmente não o é.

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