Prezado Café,
Recebi com o devido desdém e desprezo as insinuações de seu artigo maldoso e inverídico. Nada na minha longa biografia de homem público autoriza-o a acusar-me de aproveitador, indolente ou negligente com meus deveres familiares e profissionais.
Compareço de cabeça erguida diante dos públicos dos quais Vossa Senhoria ousadamente arroga-se como advogado. Sinto-me plenamente justificado. Embora nada me obrigue a tal, adiante exponho meus motivos.
Quanto ao meu pai: durante a citada viagem, servi de tradutor e guia turístico, além de garoto de recados, secretário particular, fotógrafo, carregador de malas, garçom de buffet, provador de alimentos de origem duvidosa e outras funções adjacentes;
quanto a minha filha: eu a sustento com o suor do teu rosto;
quanto a minha esposa: esta aproveitou minha ausência para ir a Porto Alegre. Aliás, como consolo para possíveis descontentamentos, ela é constantemente lembrada das outras unidades operacionais da minha empresa, disponíveis para transferência (Espírito Santo, interior de Sergipe, coração da selva amazônica);
quanto ao povo brasileiro: este sabe muito bem que os míseros sobejos que aqui me chegam são parcela insignificante dos volumosos desperdícios dessa complexa estrutura institucional que subsiste mediante sistemático e inexorável consumo de impostos, ora denominada Estado brasileiro.
Muito obrigado.
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